O dia que conheci a “Igreja do Design”

É normal que a primeira experiência com algo novo seja marcada pela expectiva e excitação. No caso do meu primeiro encontro com a Igreja do Desígnio Divino, posso dizer que foi muito especial.

Um amigo contou que estava participando de uma igreja dedicada ao design, fundamentada em conceitos como a existência de um Grande Projeto. Ele me convidou para participar, mas não fui na primeira vez, nem da segunda. Só no terceiro convite, ainda cheio de dúvidas, me permitir conhecê-la.

Jesus a preferia Apple Morrendo por nós, mas sofrendo com estilo

Conhecendo o ritual

Ao entrar na igreja, a sensação é de harmonia plena: o modo como a arquitetura se integra às formas do espaço, a textura do chão, o cheiro suave no ar e a agradável temperatura ambiente… tudo parece ser feito para você, e isso me deixou mais tranquilizado com a experiência.

Não demorou muito, um pastor aparece e começa a passar o Brief Eterno (o que, confesso, na hora me pareceu ser apenas mais um sermão). Ele falou sobre diversos assunto, sempre lembrando que era apenas um deusigner como todos os presentes, que estava ali apenas para mostrar um caminho que ele já conhecia e gostaria de compartilhar com seus irmãos. “Não projetarás a seu próximo como a si mesmo“, ele dizia.

Quando começava a achar o culto igual a tantos outros, o silêncio absoluto tomou conta do templo. Meu amigo sussura que aquele é o primeiro passo do ritual de busca da Forma Perfeita, que tem como objetivo tocar o divino.

Não questionei, mantendo o silêncio. Comecei a concentrar a atenção no fluxo dos meus pensamentos quando uma grande gritaria começou, onde todos berravam nomes de formas, ideias e conceitos: “Magenta! Sketch! Círculo! Gestalt! Oval! Ciano!”.

Assustado com tudo aquilo, pensei em sair mas esbarei em um dos auxiliares do pastor, que me entregou uma porção de água e farinha, instruindo para passar o resto adiante.

Todos estavam, como em transe, moldando formas com aquela farinha, dando formas à toda aquela massa. Sentei num canto e comecei a moldar uns bolinhos, o que foi me deixando mais relaxado e tranquilo. A massa escorria pelos meus dedos e a sensação era de que minhas mãos simplesmente sabiam o que fazer. Foi aí que compreendi, num instante de revelação, que tudo fazia sentido: eu estava sendo guiado para projetar o mundo ideal, estava permitindo a mim mesmo ser um instrumento do Grande Projeto para exterminar a imperfeição do mundo!

Enquanto eu me embevecia em pensamentos, o pastor se levantou e pediu para que todos levantassem suas formas, e junto aos fiéis presentes elegeu a forma mais próxima do ideal da Forma Perfeita. Assim, as formas eleitas foram ao forno e as comemos depois, para internalizar o sagrado.

O culto deu-se por encerrado e foi assim que, depois de anos frustrado, comecei a sentir prazer novamente com meu trabalho e minha vida.

Eu, deusigner

Graças à Igreja do Desígnio Divino e ao Grande Designer, hoje meu sentimento é de reecontro com o mundo e de perfeita compreensão do design. É como se vivessemos apenas no rough da realidade, um estágio menor de consciência que pode ser superado durante a busca pela manifestação do Design Universal.

O design nos salvará.