Manifesto Fab-Less (tradução para o português)

O Emílio Velis me mostrou o Manifesto Fab-Less, e fiz uma tradução amadora do espanhol para o português em 2017. Visite o site do manifesto e apoie.

 

Manifesto Fab-Less

Ou como fabricar quase qualquer coisa com quase nada. / O cómo fabricar casi cualquier cosa con casi nada. / How to make almost anything with barely anything.

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Resumo

El Salvador foi um dos primeiros países a impulsionar o desenvolvimento de Laboratórios de Fabricação digital ou FabLabs desde mais de cinco anos, não apenas dentro de suas fronteiras como também na região centro-americana. No entanto, a criação dos ditos espaços enfrenta uma série de dificuldades, tanto financeiras como burocráticas que tem se traduzido em convertê-lo no único país da rede FabLab na região que até o fechamento da elaboração deste manifesto ainda não conta com um FabLab. Apesar disso, uma rede de atores de fabricação digital tem se constituído de forma orgânica durante todos estes anos e em 2017 a rede aceitou o desafio de completar um FabAcademy de forma remota no Fablab Veritas de Costa Rica com a ajuda de distintos atores locais. Este manifesto resume as experiências e as lições aprendidas durante os cinco anos que permitiram fazer possível a execução de um FabAcademy em El Salvador sem contar com um FabLab ou melhor, trabalhando sob a premissa Fab-Less (termo cunhado pela industria de manufatura de chips eletrônicos sugerido por Joksan Alvarado que literalmente significa Sem-Fábrica). A descrição sob o nome de manifesto “Como fabricar quase qualquer coisa com quase nada” faz referência ao artigo de Neil Gershenfeld “Como fabricar quase qualquer coisa” no qual se expõe a filosofia por trás dos FabLab. No entanto, a equipe responsável por este manifesto quis ampliar esta definição com “quase nada” porque la experiência da fabricação digital em países latino-americanos usualmente começa com “quase nada”.

O Manifesto Fab-Less

O laboratório de fabricação digital Fab-Less baseia seu funcionamento nas cinco premissas seguintes:

  1. As pessoas constroem as máquinas
  2. As capacidades de fabricação digital da comunidade superam as de qualquer indivíduo
  3. O laboratório de fabricação digital existe onde quer que a comunidade necessite
  4. O resultado é mais importante que os métodos e ferramentas utilizados para obtê-lo
  5. Pode existir um laboratório de fabricação digital sem máquinas, mas não sem pessoas

1. As pessoas constroem as máquinas

A fabricação digital não começa com ter um máquina de corte a laser, uma impressora 3D ou uma máquina de CNC. A fabricação digital começa com a ideia de um indivíduo ou indivíduos que utilizam ferramentas de design digital para projetar e prototipar algo que logo se converterá em um objeto da vida real por meio de métodos de fabricação digital ou artesanal. Esta premissa considera que, com o tempo, as pessoas começarão a adquirir ou inclusive construir as máquinas que lhes permitirão projetar ou criar o que necessitam. Durante estes cinco anos temos visto como indivíduos passaram a construir suas próprias RepRap, construir CNCs com peças sobressalentes até comprar equipamentos especializados para impressão e corte 3D.

2. As capacidades de fabricação digital da comunidade superam as de qualquer indivíduo

Uma comunidade onde cada um tem algumas ferramentas, máquinas e conhecimentos tem maior capacidade de construir coisas e gerar soluções que cada indivíduo trabalhando separadamente. A experiência do FabAcademy 2017 demonstrou que nenhum dos participantes possuia, nem todas as ferramentas, nem todo o conhecimento, nem todos o equipamento mínimo de um FabLab. Cada um possuía habilidades especiais que foram chave para a realização das atribuições do curso. A comunidade inclui muitas vezes pessoas que são externas e de ramos muito diferentes da fabricação digital que terminam contribuindo com seus conhecimentos para gerar métodos e técnicas inovadoras realizáveis com os recursos existentes. As comunidades e coletivos externos incluem redes de design gráfico e industrial, Hackerspaces e incluem empresas privadas com capacidades de fabricação digital. Um exemplo disso é a técnica de fabricação de PCB proposta por Joksan Alvarado e melhorada por Damaris Cotto para revelar placas de cobre marcando os rastros sobre a superfície com ajuda de uma máquina de corte a laser sobre placa acrílica e vinil adesivo utilizado em técnicas de estêncil.

3. O laboratório de fabricação digital existe onde quer que a comunidade necessite

Uma garagem, uma caixa vermelha cheia de componentes eletrônicos, uma impressora 3D ou uma máquina de CNC em meio a uma mesa de um povo escondido. O laboratório Fab-Less não é um espaço fixo, é um espaço emergente, móvel, efêmero; Que aparece em qualquer lugar onde a fabricação digital possa o contribua à criação de novas coisas ou solução de problemas e que da mesma maneira pode desaparecer ou “dormir” até que a comunidade necessite novamente. Durante o FabAcademy o laboratório emergiu em uma diversidade de lugares, ainda que a maioria do curso se desenvolvesse a partir da sala de reuniões da INNBOX, os componentes eletrônicos eram trazidos do Hackerspace San Salvador, o corte a laser se realizava em pirueta, a impressão 3D se realizava em Spe3dy e o corte CNC se realizou na Universidade Don Bosco e inclusive se teve a oportunidade de realizar maquinaria em CNC na La Graja Fablab localizada em Quezaltenango Guatemala. O Laboratório não apenas não possuia um lugar fixo como durante o FabAcademy superou as fronteiras dos países.

4. O resultado é mais importante que os métodos e ferramentas utilizados para obtê-lo

Os recursos e ferramentas disponíveis em cada contexto são completamente diferentes e a fabricação digital pode ou não ser viável para todo o processo de manufatura. Talvez o design possa realizar-se de forma digital mas para sua manufatura se deva recorrer ao conhecimento tradicional ou à experimentação com outros tipos de manufatura que possivelmente não sejam completamente automatizados. fabricação digital costuma ser adaptada ao método de fabricação. A proposta Fab-Less aposta em considerar o design como parte da fabricação e a transitar gradualmente em processo de manufatura digital na medida que os recursos e o contexto a permita. Ainda que a fabricação digital certamente acelera os processo de manufatura quando não se contam com todos os meios de fabricação, os conhecimentos locais de fabricação e a fabricação artesanal resultam extremamente importantes para converter uma ideia em um objeto da vida real. A fabricação digital não deveria tentar substituir os conhecimentos e capacidades locais, mas amplificá-los e integrá-los como parte do design e da fabricação.

5. Pode existir um laboratório de fabricação digital sem máquinas, mas não sem pessoas

As pessoas constroem as máquinas é o primeiro enunciado do manifesto e sua máxima expressão se reflete em um quinto enunciado onde afirmamos que não é laboratório que conforma ou define as máquinas, mas as pessoas. Se há gente então gradualmente começarão a haver máquinas, mas se não existe gente, uma comunidade, ou um grupo de pessoas interessados em fabricação digital, as máquinas apenas servirão para acumular poeira. Durante muitos anos sonhamos com um laboratório de fabricação digital com todo tipo de máquinas para fabricar “quase qualquer coisa”, com o tempo notamos que não possíamos “quase nada”, porém o trabalho em comunidade nos permitiu converter em “quase nada” que possuíamos cada um, em um laboratório virtual equipado não apenas com máquinas senão com conhecimentos e técnicas do nível de um Fab LAb físico. Esta capacidade que a comunidade permitiu durante muitos anos realizar distintos projetos em El Salvador e, em 2017, permitiu aos alunos da FabAcademy realizar todas as atribuições requeridas.

Conclusões

O Manifesto Fab-Less não pretende ser uma guia nem uma metodologia se não uma série de premissas que consideramos constituírem uma base sólida para implementar laboratórios de fabricação digital em circunstâncias nas quais o limite de acesso a recursos é a regra, e não a exceção. Os assinantes deste manifesto são firmes crentes de que a fabricação digital pode ser impulsionada por meio da comunidade e da pessoa antes das máquinas e esperamos que as premissas compartilhadas por este manifesto sejam e utilidade para todas aquelas pessoas e comunidades que desejem implementar laboratórios de fabricação digital fab-less.

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