Mobilizações e a interface de eventos do Facebook: um botão para “Apoiar”?

Esta é um exemplo início da tela da página de uma página de evento no Facebook:

Interface de eventos no Facebook
A ferramenta de eventos do Facebook foi amplamente utilizada para as mobilizações dos protestos de junho de 2013 (Revolta do Vinage). Me chama a atenção que a tempos esta ferramenta vem sendo usada para organização de passeatas, marchas, festas, encontros, entre outros, e o número de pessoas que declaram que vão participar do evento não bate com o número de pessoas que comparece nele.

Exemplo de uma enquete em uma comunidade:

Claro, esta diferença acontece por diversos motivos. Mas há um uso criativo da ferramenta é o clicar em “Participar” sem intenção de ir no evento, mas como uma maneira de manifestar apoio ao evento, simpatia com uma causa, etc.

Está dentro da lógica do Facebook de que quantidade de Curtir/Likes denota relevância de conteúdo (com excessão da publicidade e publicações pagas, sendo o pagamento o “atalho”…). Dentro das teorias de comunicação, temos o gatewatching, que ajuda a entender parte da questão, mas que abrange pouco como os usos de uma ferramenta reconstroem seus significados.

Mais que uma questão de usabilidade, neste exempl não considero como “erro” (ex.: “queria clicar em um botão e clicou em outro”) nem estou considerando quem clica em Participar e não pode participar depois. Considero um uso criativo pois, afinal, que pode fazer a pessoa que sabe que não irá participar do evento, indo ao local, mas que quer participar declarando apoio, fazendo parte da comunidade do evento, e ajudar na visibilidade do evento? O Facebook só oferece 3 opções (imagem abaixo):

Interface do Facebook - botões de Confirmar, Talvez e Recusar

A princípio, poderíamos pensar que esta questão poderia ser resolvida com um botão do tipo “Apoiar”, ou mesmo um Curtir. Pois, sem ele, as pessoas agem utilizando o que tem disponível à sua mão, os botões de “Participar”, “Talvez” e “Recusar” (ou ainda o “X” ou simplesmente ignorar o evento, sem clique). No caso, acaba por utiliza o “Participar” que mais se aproxima de sua intenção.

Entretanto, é interessante como a utilização do “Participar” como um “Apoiar” é uma resignificação, uma construção das possibilidades de ação com a ferramenta que não se manifesta de maneira explícita na própria ferramenta de eventos.

Assim como o “Talvez” já possibilita a não polarização (do tipo “ou vai” ou “não vai”), permitindo indicar a possibilidade, porque não incorporar este novo uso criado pelos usuários, que é o de não dizer se vai ou não vai, mas simplesmente de Apoiar? Ou ainda, de declarar um porquê do “Talvez” (ou ainda do porque está participando ou recusando). Enfim, há uma série de outras nuances que a ferramenta não capta ou incorpora, que poderiam ser interessantes para alguns eventos, e não todos, por exemplo.

O Facebook, enquanto plataforma fechada, depende de um grupo centralizado para que modificações sejam feitas. Há um diferença temporal e política entre as novas manifestações e comportamentos de uso das suas ferramentas e a alteração da própria ferramenta. Sem considerar tudo que o Facebook não captará (há muitos mais usuários que funcionários) e o que não quer modificar em sua ferramenta, por seus interesses. Mas, se se tratasse de uma ferramenta aberta, esta outra opção poderia ser incorporada na própria interface.