Tradução de “Critical Design FAQ”, de Dunne & Raby

Tradução para o português do “CRITICAL DESIGN FAQ”, de Anthony Dunne & Fiona Raby. Tradução realizada por Rodrigo Freese Gonzatto. Colaboraram: Fabiana Bartholo, Murilo Marks, Fabio Buss, Gonçalo Ferraz, Alysson Franklin e Yuri Camara.

 

PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE DESIGN CRÍTICO

1. O que é Design Crítico?

O Design Crítico utiliza propostas de design especulativo para desafiar suposições limitadas, preconceitos e conceitos já dados sobre o papel que os produtos desempenham na vida cotidiana. É mais sobre uma atitude que qualquer outra coisa, uma posição ao invés de um método. Existem muitas pessoas fazendo isso que nunca ouviram falar do termo design crítico e que têm sua própria maneira de descrever o que fazem. Nomeá-lo Design Crítico é simplesmente uma maneira útil de fazer com que esta atividade se torne mais visível e assunto de discussão e debate.

Seu oposto é o design afirmativo: o design que reforça o status quo.

2. De onde vem?

O design como crítica já existia antes sob diversas aparências. O Radical Design italiano dos anos 1970 foi altamente crítico com os valores sociais predominantes e as ideologias de design, o design crítico baseia-se nessa atitude e estende-a para o mundo de hoje.

Durante os anos 1990 houve um movimento geral no sentido do projeto conceitual, que tornou mais fácil o surgimento de formas não comerciais de design como o design crítico, isso aconteceu principalmente no mundo do mobiliário, mas o design de produtos ainda é conservador e intimamente ligado ao mercado de massa.

O termo Design Crítico foi usado pela primeira vez no livro Hertzian Tales (1999) de Anthony Dunne e posteriormente em Design Noir (2001). Desde então, muitas outras pessoas têm desenvolvido suas próprias variações.

3. Quem faz?

Dunne & Raby e seus estudantes de graduação no Royal College of Art (RCA) como James Auger, Elio Caccavale e Noam Toran, que provavelmente são os mais conhecidos, mas existem outros designers trabalhando de um modo parecido que não descreveriam o que fazem como design crítico: Krzysztof Wodiczko, Natalie Jeremijenko, Jurgen Bey, Marti Guixe …

4. Para que é isso?

Principalmente para nos fazer pensar. Mas também sensibilizando, expondo hipóteses, provocando a ação, estimulando o debate, até mesmo entretendo em um modo meio intelectual, como a literatura ou o cinema.

5. Porque está acontecendo agora?

O mundo em que vivemos hoje é extremamente complexo, nossas relações sociais, desejos, fantasias, esperanças e medos são muito diferentes das do início do sec20. No entanto muitas das ideias que caracterizam o padrão de design predominante derivam do início do sec20.

A sociedade mudou mas o design não mudou. O Design Crítico é uma das muitas mutações que pelas quais o design está passando em um esforço para se manter relevante para as complexas mudanças tecnológicas, políticas, econômicas e sociais que estamos experimentando no início do século 21.

6. Qual o papel do humor?

Humor é importante, mas muitas vezes mal utilizado. A sátira é a meta. Mas muitas vezes só a paródia e o pastiche são alcançados. Estes reduzem a eficácia em diversos modos. Eles são preguiçosos e emprestam de formatos existentes, sinalizam muito claramente que é algo irônico e assim aliviam alguns encargos do espectador. O espectador deve experimentar um dilema: é grave ou não? Real ou não? Para o Design Crítico ser bem sucedido eles precisam fazer sua própria cabeça. Além disso, seria muito fácil pregar, o uso hábil da sátira e da ironia pode envolver o público de uma forma mais construtiva ao apelar à sua imaginação, bem como envolver o intelecto. Bons políticos e bons comediantes conseguem fazer isso bem. O blefe e o humor negro trabalham isso melhor.

7. É um movimento?

Não. Não é um campo que pode ser claramente definido. É mais sobre valores e uma atitude, uma maneira de olhar para projetar e imaginar suas possibilidades além das definições estreitas do que é apresentado através da mídia e nas lojas.

8. Quais são seus parentes mais próximos?

Ativismo
Fábulas com moral da história
Design Conceitual
Futuros contestáveis
Ficções de Design
Interrogative Design
Radical Design
Sátira
Ficção Social
Design Especulativo

9. Quais são os maiores equívocos?

Que é negativo e anti-tudo
Que são apenas comentários e não podem mudar nada
Que é piada
Que não está preocupado com a estética
Que é contra a produção em massa
Que é pessimista
Que não é real
Que é arte

10. Mas isso não é arte?

Definitivamente, não é arte. Pode emprestar pesadamente de arte em termos de métodos e abordagens, mas é só isso. Esperamos que a arte seja chocante e extrema. O Design Crítico precisa estar perto do cotidiano, que é de onde vem o seu poder de perturbar. Se for muito estranho, será ser julgado como arte, se muito normal será facilmente assimilado. Se é considerado como arte é mais fácil de lidar, mas se ele permanece como design é mais perturbador, sugerindo que o cotidiano como o conhecemos poderia ser diferente, que as coisas poderiam mudar.

11. Não é um pouco sombrio?

Sim, mas não como um objetivo em si mesmo. Emoções sombrias e complicadas são ignoradas no design, quase todas as outras áreas da cultura aceitam que pessoas são complexas, contraditórias e até mesmo neuróticas, mas não no design, nós vemos as pessoas como usuários e consumidores obedientes e previsíveis.

Um dos papéis do Design crítico é questionar a gama limitada de experiências emocionais e psicológicas oferecidas por meio de produtos de design. Assume-se que o Design apenas faz coisas agradáveis, é como se todos os designers tivessem feito um juramento de Hipócrates, o que limita e nos impede de participar plenamente e projetar para as complexidades da natureza humana que, naturalmente, nem sempre é agradável. É mais sobre o uso positivo da negatividade, não da negatividade por si só, mas chamar a atenção para uma possibilidade assustadora na forma de um conto de advertência.

12. E seu futuro?

Um perigo para a concepção crítica é que ela acaba como uma forma de entretenimento sofisticado de design: 90% humor e 10% crítico. É preciso evitar esta situação pela identificação e pelo envolvimento com questões complexas e desafiadoras. Áreas como a Previsão de Futuro se beneficiariam com sua visão mais corajosa da natureza humana e capacidade de tornar tangíveis questões abstratas. Pode também desempenhar um papel nos debate público sobre o impacto social, cultural e ético das tecnologias emergentes e futuras na vida cotidiana.